por ser culturalmente artístico...

Há uma enorme diferença entre ser remunerado e trabalhar com algo.

Fiquei extremamente surpreso ao perceber a visão hostil dos profissionais que trabalham com arte. Vivenciei uma atitude inesperada que me despertou para uma enorme dúvida... o que é exercer-se profissionalmente em meio a um momento culturalmente excitante? O que nos faz organizar os nossos “aluninhos” e levá-los ao sete de setembro para marchar? Não quero discutir aqui as mediocridades que batem a nossa porta a centenas de anos atrás. Não quero pensar na democracia ou na república neste momento, mas sim no respirar cultural que as cidades vivenciam a cada escola que desfila, a cada aluno que fantasia-se tematicamente, a cada olhar que brilha dos antigos ao perceberem suas tradições sendo praticadas fielmente pelos mais novos. Grupos de Reisado, manifestações indígenas, religiões africanas, o poder militar mesclando-se com o cívico são expressões ímpares da minha cidade que pululam e preenchem um ambiente carente de momentos simbólicos de representação das práticas diárias deste povo.

Porém o que causa profunda dor é a percepção de que os ditos artistas que tentam lecionar arte – e nesta prática já começam os enganos – se colocam em patamares distintos e dizem, agora não, estou trabalhando. E não pensam na descontração, na brincadeira, no despertar infantil para a prática diária da cultura, seja própria, seja adquirida. A arte é um resultado das vivências individuais. Como vivenciar isso se o dito professor de arte não pode deixar-se brincar um momento durante o desfile? Se não entregar-se a um simples sorriso para seus amigos e colegas? Qual o motivo (e eu me pergunto qual o fim) deste professor encarar a arte como um trabalho, não como uma profissão? Ora, alguns me diriam, você confunde as coisas, há responsabilidades a serem cumpridas, e eu os responderia: Quando há respeito pelo que se está fazendo essas “responsabilidades” são inerentes à prática profissional. Fico em inteiro deslocamento ao pensar nestes momentos “artísticos” e me preocupo com as “artes” lecionadas nas escolas de ensino fundamental e médio, nas escolas especiais para artistas e principalmente nos projetos sociais que costuma mistificar a realidade das crianças assistidas.

Fico em dúvida sobre qual arte para o meu dia escolher, percebo em cada palpitar cardíaco refletido em meus pulsos o desvendar cultural que se descortina em cada olhar. E percebo que sou e não que deveria ser. E observo que faço e que não me visto de personificações.

O máximo que me resta é torcer pelo bem cultural e artístico, não o que é inerente e que sobreviverá, mas sim pelo que é sacrificado nas infindáveis aulas infundadas.

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