Meias palavras, mensagens inteiras. Por Allan X. Brito



A palavra é a unidade mínima com som e significado que pode, sozinha, constituir enunciado. Isso segundo o Dicionário Houaiss. Em outras palavras, minhas palavras, é a menor parcela possível de informação. Sozinha, uma palavra pode transmitir sentimentos, ordens e indicações. Juntas, em frases ordenadas, períodos e orações, as palavras têm possibilidades imensuráveis. E veja que as palavras surgiram como ferramentas utilizadas pelo ser humano para transmissão de informações, comunhão de opiniões, trabalho em conjunto e a transcendência de suas ideias.

Podem ser consideradas como ferramentas inadequadas, limitadas, pois nunca contém toda a grandeza do intelecto ou a inteireza da experiência humana. No entanto, é o que dispomos, dentro das concepções e limitações culturais. 

Às vezes determinada cultura não dispõe de uma palavra que defina adequadamente uma coisa, situação ou sentimento específicos; algo que não é reconhecido como existente pelos membros dessa cultura. Assim, quando em contato com uma cultura diversa - outro país, outro planeta, outra realidade ou dimensão de existência - que possui uma palavra cujo conceito ultrapassa suas explicações - então essa palavra é absorvida da mesma forma que absorvemos novas tecnologias. E muitas vezes, em conjunto: daí a palavra "deletar", "Dá o play", "recall", "bluetooth", "wi-fi"... em sentido inverso, do português para o inglês: "saudade".

Palavras são armas, também. Refletem nossos estados interiores, denunciam nossas intenções e revelam o que realmente queremos dizer. São atos-falhos. São pegadinhas.

Transmitem ordens militares de forma a serem compreendidas e os objetivos alcançados. Relatam acontecimentos históricos, ensinando as gerações seguintes a não incorrerem nos mesmos erros de seus antepassados. Registram eventos econômicos, encontros de países, balanços patrimoniais. Também divulgam notícias, anunciam tragédias e participam lutos. Informam a previsão do tempo, fomentam cisões e ódios, mas também servem para declarações de amor. Palavras amorosas, apaixonadas, arrebatadas. Às vezes são inúteis: olhares de amantes que comunicam sem dizer, abraços de amigos e colo de mãe.

Às vezes as palavras são maiores que nós, às vezes elas ressaltam a própria grandeza humana como criação de Deus. E, ainda assim, são só palavras. Mas, para nós, são tudo.

As palavras têm poder, o poder de nossa intenção ou desatenção. Dizem muito sobre aquela que as pronuncia. São a chave do sucesso ou a razão do fracasso. Podem bendizer ou amaldiçoar. Têm significantes, significados, ocultismos e mistérios. Jeremiadas, fantasmagorias e cepticismos. Podem nos levar aos confins do universo, ao início da Criação e ao âmago de nós mesmos.

Palavras são como a epifania e a quintessência. São a herança que recebemos e o legado que deixaremos. Se escritas, ficam, se ditas, voam. 

Usemo-las, pois, com graça e sabedoria.



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