"Ser ou não ser, eis a questão" Por Carla Edcléia

Ser ou não ser, eis a questão


Em algum momento da sua vida você já disse essa frase, ainda que brincando ou de forma séria? A célebre frase do poeta, dramaturgo e ator inglês Willian Shakespeare, tirada de sua peça Hamlet, no contexto em que foi dita pelo personagem, ele se referia em uma interpretação bem direta a viver ou morrer. No entanto, ela pode ter diversas outras interpretações e isso vai depender do ponto de vista de cada um, porém na maioria das vezes, ele nos remete a um questionamento existencial muito amplo, onde pensamos logo em nossa identidade. Quem nunca teve dúvidas sobre quem é, ou sobre o que está fazendo nesse orbe terrestre, ou ainda qual a sua missão diante de um universo infinito e misterioso, sendo você tão pequeno?
                Talvez sejamos hoje, fruto do que plantamos ontem e seremos amanhã a colheita de ambas as plantações, o passado e o presente. Diante disso, quem você era quando criança? Um menino ou menina que brincava na rua, que na sua ingenuidade, acreditava em tudo e em todos, pois para você só importava se divertir e ser feliz, onde todos os anos, quando se aproximava o natal você esperava ansiosamente os presentes trazidos por Papai Noel? Ou será que teve a sua infância roubada e tendo que trabalhar tão pequeno, nunca soube o que era brincar, pois tão cedo lhe deram responsabilidades de adultos?
                E na adolescência quem você foi ou ainda é? Será que passou por aquele momento de rebeldia, onde ninguém lhe compreendia e para chamar a atenção de todos, ou pelo menos de seus pais, você se escondeu por trás de cabelos coloridos, calças rasgadas e piercings em várias partes do corpo? Será que teve que namorar escondido, pois os pais dela não permitiam? Talvez tenha pensado em fugir de casa ou também tenha ficado na dúvida se perdia a virgindade ou se “guardava” para o casamento. Pode ser que tenha pensado apenas nos estudos e se dedicado a eles a tal ponto que era conhecido como o nerd esquisito e tenha deixado de aproveitar essa fase vivendo amores de carnaval tão loucos e intensos, mas rápidos como fogo de palha.
                Quais foram as suas escolhas no passado? Você foi quem sempre quis ser e ainda é? E hoje, o que mudou? Você ainda é aquele rapaz latino-americano sem dinheiro no banco, sem parentes importantes e vindo do interior? Ou você ainda é uma garotinha (mesmo adulta), esperando o ônibus da escola sozinha, rezando baixo pelo canto por ser uma menina má? Ou está esperando também o ônibus da vida passar, para você finalmente entrar nele e começar a viver? Suas escolhas de hoje determinarão quem você será daqui a dez, vinte, trinta anos, então, quem você decide ser AGORA? O que está te impedindo de ser quem você quer ser de verdade?
                Talvez você esteja preferindo ser como um cavaleiro preso na sua armadura, criada por você para se proteger do mundo ou quem sabe de si mesmo, para não mostrar suas falhas, medos ou desejos mais íntimos. Quando você irá decidir enfrentar de vez os seus dragões (medos) para simplesmente deixar cair, ainda que lentamente, cada parte dessa pesada e enferrujada armadura, a qual não aguenta mais carregar de tão pesada que é?
                Nos escondemos por detrás de roupas e calçados elegantes, ou não. Pintamos nosso cabelo para disfarçar os fios brancos trazidos com o tempo para não mostrar nossa verdadeira idade. Pintamos nosso rosto com maquiagens e usamos cremes rejuvenescedores para esconder as linhas (rugas) que comprovam que já somos experientes, para não dizer velhos. Usamos ternos para parecer formais, quando gostaríamos de estar simplesmente de jeans e camiseta. Usamos saltos mais altos que a nossa vaidade, quando queríamos apenas estar descalços sentindo nossos pés na frieza do chão, por vezes menos frio do que o duro e cruel padrão de beleza que a sociedade nos impõe que devemos ser.
                Por quem fazemos tudo isso? Para quem queremos nos vestir, enfeitar, fantasiar? De quem estamos nos escondendo? Quando vai chegar o momento em que estaremos NUS diante do mundo? Falo não da NUDEZ do corpo que para muitos é motivo de vergonha ou pudor, falo da NUDEZ DA ALMA, onde está a sua essência, o seu eu autêntico, onde está a verdadeira Carla, Malcolm, Carmem, Adamo, Adriana, Ícaro, Alan, Maria, José, Beatriz, Francisco, Paulo...
                Afinal, você já descobriu quem você é? Eu ainda me procuro, dentro e fora de mim mesma e talvez algum dia eu me encontre, ou talvez não, essa resposta só o tempo e as marcas que ele deixa em nós, cada um dirá...

Comentários

  1. Me vi neste texto. A muito tempo me procuro. Por vezes perco o sono me questionando o motivo da minha existência. Desenvolvi serios problemas de ansiedade (patologica) enquanti me procurava. Me questionei tanto sobre o motivo de estar aqui que a vida pareceu nem fazer mais sentido. Mas estou me encontrando... e seja qual for o motivo de estarmos aqui, exista ele ou não; a única coisa que sei é que estamos vivos, aqui e agora, e no momento isso me basta.
    Obrigada por este texto, obrigada por me descrever.

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    1. Fico muito feliz que tenha se identificado com o texto, Juliana! É muito gratificante quando através das palavras tocamos a alma do outro e o fazemos se enxergar nelas de alguma maneira! Isso só me faz ter mais vontade de escrever. Gratidão minha linda!

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  2. Belíssimo texto. Reflexões muito profundas. Parabéns!!!

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    1. Agradeço de coração! Que bom que gostou! A ideia sobre quem somos sempre vai nos remeter a reflexões profundas, pois por muitas vezes, nem mesmo nós ainda sabemos e talvez nunca saibamos se não pararmos pra olhar pra dentro! Um abraço!

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